domingo, 29 de março de 2009

A janela aberta pela crise

Aldem Bourscheit

Administrador de empresas formado pela Faculdade Getúlio Vargas, Fábio Feldmann foi eleito deputado federal por três mandatos consecutivos e foi responsável pelo capítulo voltado ao meio ambiente durante a elaboração da Constituição de 1988. Em sua atuação política, tratou de temas como lixo, alterações do clima, proteção da Mata Atlântica e de cavernas, com destaques para a criação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e de um projeto de lei para a Política Nacional de Resíduos Sólidos, ainda aguardando aprovação no Congresso Nacional.
Em entrevista ao blog Vozes do Clima, comenta sobre a urbanização mundial e quanto às oportunidades para investimentos sustentáveis frente à crise econômica. “O governante brasileiro ainda acha que aquecimento global deve ser tratado daqui a 20 anos”, diz.

Qual a sua avaliação sobre o atual modelo urbano?
Há um tendência praticamente irreversível de urbanização do planeta. Isso está exigindo uma atuação pública muito maior nesse processo. E essa participação se dá com a criação de condições de sustentabilidade para evitar o aumento de emissões (de poluentes), especialmente nos países em desenvolvimento. Temos que nos preparar para o aumento da urbanização e dotar as cidades, principalmente as megacidades, de condições para cortar emissões e se adaptar ao aquecimento global.

Como chegamos a essa situação?
Por absoluta omissão do poder público no mundo inteiro e incapacidade de prevenção. O Brasil é um excelente exemplo. Em São Paulo, grande parte da região metropolitana é ilegal ou informal. Mas na capital há uma tomada de consciência da sociedade como um todo sobre os riscos que a falta de intervenção pública geram para a própria sociedade. Em última conseqüência, quem paga a conta é a própria população. No caso do aquecimento global, os impactos já existem, são as enchentes, deslizamentos, furacões.

É possível reverter ou amenizar esse quadro urbano?
Sim. Existem muitas oportunidades para muitos investimentos na direção correta, em transporte público, conservação de energia, de água.

O Brasil está fazendo isso?
Não, pelo contrário. O país está enfrentando a crise (econômica global) com créditos para transporte individual sem nenhuma contrapartida de desempenho ambiental e climático. A crise deveria ser trabalhada mundialmente com aquecimento global, direcionando investimentos públicos maciços em economias de baixo carbono, transporte público eficiente, barato e não-poluidor, em conservação de energia. Essas tecnologias já existem. Precisamos de instrumentos econômicos para disseminá-las. Devemos colocar esses temas na agenda política, entendendo que esse assunto é urgente e prioritário. O governante brasileiro ainda acha que aquecimento global deve ser tratado daqui a 20 anos.

E quanto aos resíduos sólidos?
O Brasil não dispõe de uma legislação federal. A primeira proposta de lei nacional sobre resíduos sólidos é de 1991, quando eu era deputado. Pode passar 18 anos sem que o país tenha uma lei dessas? Por que essa preocupação? Por causa do metano, um gás dos mais impactantes no aquecimento do planeta.

Fonte: Fantástico - Vozes do Clima