sábado, 31 de janeiro de 2009

Fala, Comitê.

CBH ALPA
Alto Paranapanema

Roque Rolim Guilherme
CONDEMA Itapetininga

Mata Ciliar

O Estado de São Paulo tem 3,3 milhões de hectares recobertos por vegetação nativa, o que representa 14% do território. A vegetação remanescente distribui-se de forma
heterogênea, concentrando-se nas áreas de maior declividade, na Serra do Mar, e nas unidades de conservação administradas pelo poder público. Vastas áreas praticamente se encontram desprovidas de vegetação nativa.

A situação das matas ciliares é preocupante. Estudos estimaram a existência de mais de um milhão de hectares de áreas marginais a cursos d’água, sem vegetação ciliar. O número é ainda preliminar, mas indica a ordem de grandeza envolvida. Se fosse adotado apenas o plantio de mudas para a revegetação, seria necessário produzir, plantar e manter mais de dois bilhões delas.

As matas ciliares são fundamentais para o equilíbrio ambiental de zonas ripárias de corpos d’água e sua recuperação proporciona benefícios significativos sob vários aspectos. Em escala local e regional, as matas ciliares representam corredores que favorecem o fluxo gênico entre remanescentes florestais, fornecem alimento e abrigo para a fauna, em especial a aquática, e ainda são barreiras naturais contra a dissemina-ção de pragas e doenças da agricultura.

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Artigo - O Aquífero Guarani pode nos salvar?

de Ignácio de Loyola Brandão.
Se eu soubesse da existência do Aquífero Guarani quando comecei a escrever meu romance Não Verás País Nenhum, provavelmente os rumos do livro teriam sido diferentes. Ou
eu teria acrescentado um capitulo que hoje acho fundamental e no qual venho trabalhando. Não Verás fala de uma distopia. De um Brasil sem árvores, sem rios, sem água. A ação se passa em São Paulo num futuro remoto. Quando escrevi, imaginei que seria mais ou menos 2010 ou 2020. A cidade tem 60 milhões de habitantes, os bairros são guetos dos quais só é permitido sair com fichas especiais, a violência grassa, os congestionamentos paralisaram todas as ruas e avenidas. O sol está cada vez mais quente, o calor mata as pessoas.
É um mundo individualista, a sede inferniza, há os contrabandistas de água, cada um vive encerrado no seu mundo de egoísmo, defesa, autoproteção. Publiquei este livro no final de 1981 e 27 anos depois o que descubro?
Que tudo aquilo que “previ” com a imaginação, com a fantasia, começou infelizmente a
acontecer: o aquecimento global, a ameaça da falta d’água, os congestionamentos, o final
dos combustíveis petrolíferos, a cidade dividida em guetos habitacionais, as grades nas casas e
prédios, a neurose da segurança.

Ao participar do encontro sobre o Aquífero Guarani, em Ribeirão Preto, descobri uma saída para meu mundo. Ao mesmo tempo, sendo eu cético quanto a natureza humana, criei um novo e possível capítulo, porque tudo pode acontecer neste Brasil onde as elites perderam a responsabilidade social e a corrupção faz parte normal do cotidiano. O novo trecho que pode eventualmente entrar no livro é este. Pura literatura. Será? Souza é o personagem principal do livro, um professor de história aposentado pelo regime político. Tadeu é outro professor de história desencantado com tudo. “Souza e Tadeu Pereira olham os caminhões tanques que circulam clandestinamente nos bairros privilegiados. Param de porta em porta, estendem as mangueiras, levam alguns minutos para encher as caixas reserva. Souza e Tadeu sabem que os municiadores d’água receberão em fichas de alimentos, que serão renegociadas.
—Sei que meu sobrinho comanda uma operação dessas.
— Mas onde consegue essa água, se água não existe mais?

— Meu sobrinho me revelou uma noite, quando ocupou minha casa.
— Onde existe água, meu Deus?
— No Aquífero Guarani.
— No quê?
— No Aquífero Guarani.
— E o que vem a ser isso?
— Um professor de história e nunca ouviu falar?
— Porque eu deveria?
— No meio acadêmico se sabe.
— E o que é o meio acadêmico hoje senão um grupo de privilegiados distantes de nós, do mundo...
— O que aconteceu conosco, Tadeu?
— Papo cabeça, agora. O que é esse aquífero?
— É o maior lençol d’água subterrâneo do mundo.
— Onde está?
— Embaixo de nós.
— Bem embaixo. Pega Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai...
— Paraguai? Falsificam a água, aposto.... está aqui no Brasil?
— O que estou dizendo? Parece tonto, a aposentadoria te deixou esclerosado?
— Deixa todo mundo, não?
— Está aqui no Estado de São Paulo. O que você aprendeu como professor de história?
— De história, não de geografia, ou melhor, de geologia.
— Meu sobrinho, você conhece o capitão do Novo Exercito, aquele grupo que dominou tudo, me contou um dia. Você sabe que mesmo sendo o pior caráter que conheço, ele sempre foi reconhecido a mim e a Adelaide por tê-lo adotado, depois que os pais morreram.
— Diz logo, histórias de família me enchem o saco.
— Pois o grupo de meu sobrinho descobriu o tal aquífero, levantou dinheiro grosso, trouxeram máquinas de perfuração, se apresentavam como empresas de petróleo, chegaram ao tal lençol numa operação secreta, montaram tanques de depósito, equipamentos de abastecimento. Organizaram redes de entregas aos grupos privilegiados. Vendem água no mercado negro...
— Mercado negro? Parece coisa dos anos 50 ou 60.
Mais ainda. Lembra-se quando no Brasil cada um tinha o seu contrabandista de uísque, o seu doleiro, depois vieram os caras que lavavam dinheiro, as contas nos paraísos fiscais, os mensalões, os superfaturamentos? Meu sobrinho uniu-se aos grandes empreiteiros, construíram piscinões subterrâneos, estocaram imensas quantidades de água...
— Piscinões? Essa palavra é antiga também...
— Criação de um velho político paulistano que ficou inteiramente gagá. Morreu aos cem anos repetindo que tinha construído tudo, de Brasília às pirâmides do Egito, de Itaipu ao teatro Municipal de São Paulo. No fim da vida, garantia que tinha dado o grito do Ipiranga e financiado a vinda de Dom João VI ao Brasil. Fez tanto os túneis que passam embaixo do Ibirapuera, como o que está sob o canal da Mancha, o túnel de Simpson, na Suíça.
— E essa água? A do tal aquífero?
— Tem aquedutos que vão para toda a América Latina.
— A água está na mão deles?
— Talvez logo não esteja.
— Como?
— Há um grande movimento por todo este país.
Gente que vem se reunindo, se unindo, se comunicando, se organizando.
— Para quê?
— Para tomar o aquífero. Ou retomar. Devolver ao Brasil. Agora, tem um bando de multinacionais no comando. Grandes interesses. Talvez em um ano o aquífero seja nosso.
— Uma operação militar?
— Operação militar. Subterrânea. Sem trocadilhos com o aquífero.
— Tem gente suficiente? Armas?
— Ainda não sei, estou indo para a minha primeira reunião.
— Vai caminhar até onde?
— Bem longe. Quer vir?
— Fazer o quê? Ficar aqui? Morrer aqui?”

Ignácio de Loyola Brandão, 72 anos, é escritor e jornalista, tem 31 livros publicados entre romances, contos, crônicas, infantis, viagens. Seus livros foram publicados em inglês, espanhol, italiano, alemão, húngaro, coreano do norte, checo. Acaba de ganhar o Jabuti Dourado 2008 (Edição de 50 anos do prêmio) como o Melhor Livro de Ficção com O Menino Que Vendia Palavras.