quarta-feira, 25 de março de 2009

O pior dos pesadelos na conservação

Maria Tereza Jorge Pádua

O pior dos pesadelos é assistir, em um programa dominical chamado Globo Rural, o presidente do instituto responsável pela administração das unidades de conservação da natureza no nível federal, atacar o objeto principal de sua responsabilidade. O mínimo que pode desejar aqueles que viram o depoimento do Presidente do Instituto Chico Mendes (ICMBio) é que ele seja demitido imediatamente.

As declarações de quem deveria primeiramente e mais que qualquer outro brasileiro, defender as unidades de conservação e as áreas de preservação permanente (as já bem conhecidas APPs), sobre quão injusto é se estabelecer unidades de conservação “onde tem gente” sem desapropriá-los imediatamente e; a necessidade de se mudar o Código Florestal, pareciam ser proferidas por um inimigo da biodiversidade e não por alguém que tem o dever de protegê-la e de defender as unidades de conservação, onde a biodiversidade encontra seu único porto seguro. Por que será que o Presidente, funcionário de carreira do IBAMA, e agora presidente do ICMBio, fez declarações tão renhidas contra sua própria função e tão perniciosas para o meio ambiente? Será que foi só para dar uma de “bom moço” para a TV? Será que foi pura covardia, ou, pior, será que foi de total desconhecimento do assunto?

O desavisado começou afiançando que os parques nacionais no passado “eram criados de forma arbitrária, sem se considerar as populações que viviam ou vivem dentro de seus lindes”. Esta afirmação contém uma inverdade grotesca. O Brasil, ao contrário de alguns países, se notabiliza por nunca ter tido confrontos físicos sérios em suas unidades de conservação. O fato de alguns governos, notoriamente o atual, não quererem dar os recursos suficientes para as necessárias desapropriações é só uma demonstração de descaso e de falta de prioridade com a conservação da natureza pelo Poder Público. E mais, a desapropriação das terras das unidades de conservação é a sua responsabilidade, senhor Presidente! Esqueceu?
Fonte: O Eco