Em 1995 um dos maiores historiadores da atualidade publicou um tratado assustador sobre o século 20. Em seu livro Era dos Extremos, o britânico Eric Hobsbawm analisa toda a história dos últimos 100 anos. As guerras, os entraves raciais e religiosos, o crescimento das metrópoles e da economia mundial, tudo isso em detrimento da vida humana. "O velho século não acabou bem", escreve. Pois logo no início do século seguinte o mundo passou a assistir a uma de suas maiores crises econômicas. O modelo capitalista, que em resumo diz que, quanto mais se acumular dinheiro, melhor, não funciona mais.
A menina Isadora nasceu no dia 11 de fevereiro de 2009 no meio dessa confusão. E o que ela tem a ver com isso? Tudo. Ela é a herdeirazinha deste mundo que construímos. E, apesar da pouca idade, é Isadora quem definitivamente abriu os olhos da mãe, que assina este texto, para desejar cuidar do que constitui o mundo dela: seu pai, suas bisavós e avós, primos, a sua casa, o seu bairro, a cidade em que vive. Foi assustada pela leitura de Hobsbawm e observando o mundo de Isadora que comecei a elaborar a pauta que deu origem a esta matéria. A troca de fraldas, apesar de ser um ato mais do que trivial na vida de uma mãe, também foi um fator imprescindível para pensar no assunto que vem a seguir.
FRALDA É LIXO
Sim, fralda descartável é uma invenção bem prática, mas um horror para o planeta. Uma criança, em seus dois primeiros anos, utiliza em média 5,5 mil fraldas descartáveis - que custam à natureza cerca de cinco árvores. Uma fralda demora 450 anos nos lixões para se decompor. Para ter uma ideia, a cidade de São Paulo recolhe cerca de 13 mil toneladas de lixo todos os dias. Cerca de 230 toneladas são constituídas de fraldas descartáveis (2% do lixo é constituído de fralda descartável). Os números foram coletados pela engenheira química Bettina Lauterbach, do Rio Grande do Sul. Mãe de duas filhas, é uma das maiores ativistas do Brasil pelo retorno das fraldas de pano. Graças ao trabalho de gente como Bettina, as fraldas de pano evoluíram. Elas se tornaram práticas, ajustáveis ao corpo do nenê. Bettina, que pesquisa tecnologias para a fabricação das fraldinhas e também as comercializa, conta que as maiores inimigas em seu negócio são as avós, que sempre tentam convencer as mães que entram em sua loja a sair dali imediatamente.
Ela explica que aquelas que criaram bebês até meados da década de 1970 ainda têm na memória a pilha acumulada de panos no fim do dia. "Mas deve-se levar em consideração que as fraldas estão diferentes e o acesso às máquinas de lavar também melhorou", diz. Você pode até achar que também não é lá muito econômico para a natureza gastar água com a lavagem de panos. Mas hoje o problema do lixo nas metrópoles é muito mais alarmante do que a escassez de água. Tanto que países como Bélgica e Inglaterra incentivam - inclusive com dinheiro - os pais a optar pelo uso de fraldas de pano. Faça um teste: pergunte a sua avó ou mãe se no tempo dela as crianças deixavam a de usar fraldas mais cedo do que aquelas de hoje, o que acontece por volta dos 3 anos de idade. É provável que, puxando pela memória, ela responda que sim. É que, naquela época, os pequenos se sentiam incomodados por estarem sempre molhados, coisa que não acontece com a fralda descartável, pois a tecnologia usada para absorver o xixi o deixa longe da pele do bebê até a troca. É verdade que não é fácil para pessoas como eu, que se acostumaram a usar fralda descartável na Isadora, se adaptar à de pano. Mas vale o teste. O trabalho cresce um pouquinho, sem dúvida, mas as vantagens ambientais são recompensadoras.
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Fonte: Planeta Sustentável