domingo, 25 de outubro de 2009

Rio agoniza um ano após vazamento de pesticida

Quase um ano depois de um dos piores acidentes de sua história - o vazamento do pesticida endossulfan -, o Rio Paraíba do Sul ainda agoniza. Os peixes rarearam. Espécies como dourado, piau vermelho e cascudo preto e pintado não foram mais vistas. Em um esforço com empresas privadas para recuperar a vida no rio, o governo iniciou um programa para devolver ao Paraíba do Sul 1 milhão de peixes em dois anos.

Até agora, 90 mil filhotes (alevinos, no jargão técnico) foram lançados, mas eles só começarão a procriar em dois anos. O acidente aconteceu na noite de 18 de novembro, durante procedimento de envase do pesticida na Servatis, em Resende, no sul fluminense. Um caminhão com 30 mil litros da substância seguiu da área de sintetização para o tanque. No processo, uma mangueira se soltou, despejando o pesticida em um dique de contenção. "Uma válvula de descarte do dique de águas pluviais dava passagem.

O operador não percebeu porque não estava presente. Fizemos a testagem assim que percebemos a coloração leitosa da água do dique", relembra o gerente de Meio Ambiente da Servatis, Guilherme Gama. Oito mil litros de endossulfan vazaram e percorreram os 500 quilômetros do rio, entre Resende e a Praia de Atafona, em São João da Barra, no norte fluminense, onde está localizada a foz do Paraíba do Sul.

Por todo o caminho, o veneno deixou centenas de toneladas de peixes mortos.Esses peixes se estenderam por 32 quilômetros da orla de São João da Barra. Em Barra Mansa, pescadores retiraram 3 mil quilos de dourados, curimbas e piaus. "Foi a única vez na minha vida que peguei um piauçu de 20 quilos. Só que ele já estava morto", lamenta o pescador Sérgio Coelho, de 56 anos, presidente da Associação dos Canoeiros Defensores da Natureza de Barra Mansa. "O endossulfan atinge o sistema nervoso central dos peixes, causando paralisia nos órgãos internos e matando os animais", explica o biólogo Guilherme Souza, diretor técnico do Projeto Piabanha, que se dedica ao repovoamento dessa espécie no Paraíba do Sul.

O impacto foi ainda maior porque o acidente ocorreu no momento da piracema, quando os peixes sobem o rio para se reproduzir. "Esse acidente foi muito mais grave do que o vazamento de uma indústria de papel, em 2003. Naquela época, o rio foi atingido por matéria orgânica. Dessa vez, foi um produto extremamente tóxico, que dizimou a vida por onde passou", afirma o biólogo.

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Fonte: Estadão Online